Iniciando uma nova
fase, o Torture Squad, maior nome do Thrash/Death Metal nacional, soltou o
álbum conceitual “Esquadrão de Tortura” (2013) onde abordou a ditadura militar
no Brasil, além de mostrar técnica e variação irrepreensíveis em sua música.
Primeiro disco como power trio e com o guitarrista André Evaristo nos vocais, “Esquadrão
de Tortura” vem ‘causando’ no underground. Conversamos com André e Castor
(baixo), que ao lado do baterista Amilcar Christófaro, iniciam mais uma página
deste nome clássico do Metal brasileiro.
Como
surgiu a ideia de abordar os ‘anos de chumbo’ da ditadura militar brasileira no
novo trabalho?
Castor:
Surgiu porque queríamos mostrar que a banda tem muito a dizer não só
musicalmente, mas também liricamente. Decidimos narrar em ordem cronológica
esse período em que o nosso país passou, que foi sem dúvidas um grande marco na
nossa história, onde muitas coisas pesadas e sinistras aconteceram!
Houve
alguma dificuldade ou até pressão na busca por informações? Algum tipo de
repressão?
André
Evaristo: Além da assessoria que tivemos para pesquisa, hoje
em dia há muita informação disponível em bibliotecas, museus e até mesmo na
internet, o que nos auxiliou bastante. Não encontramos problemas para esse
trabalho.
O
processo de composição deve ter sido intenso. Como foi esse processo desde a
pesquisa envolvendo a temática até a parte musical?
André:
Escrevemos um texto grande, um resumo dos tópicos que escolhemos. Antes disso,
já vínhamos trabalhando o instrumental todo e com os arranjos praticamente
prontos escrevemos as letras.
Castor:
Tivemos a assessoria do historiador e amigo Alexandre Rossi que nos orientou a dar
o ponta pé inicial e também o escritor Roniwalter Jatobá. Fizemos muitas
pesquisas pela internet, assistimos vários documentários, filmes sobre essa
época, etc... A parte musical do álbum
foi uma mescla de músicas e ideias que já tínhamos guardadas e juntamos também
com materiais que o André trouxe desde que ele entrou na banda.
Aliás,
vocês procuraram sincronizar as músicas com as letras?
André:
À medida que fomos terminando os arranjos instrumentais fomos percebendo o
encaixe dos temas líricos com a música. Foi bem natural, tanto que conseguimos
manter a cronologia das letras combinada ao tracklist que sentimos ser
cativante.
Castor:
Fomos seguindo o clima das músicas e das letras e, assim formando o tracklist
do álbum.
“Esquadrão
de Tortura” traz a banda extremamente técnica. Esse foi o foco principal ou
fluiu naturalmente?
André:
Tudo no Torture Squad é feito com dedicação e muito trabalho, mas é sempre
espontâneo. Cada música é feita de acordo com a “vibe” do dia e nunca é
planejado “vamos tocar mais rápido, vamos colocar mais coisas”. Músicas tão
diferentes como Fear to the World e Wardance, por exemplo, mostram bem isso
que eu disse.
Castor:
Nosso processo de composição sempre foi o mesmo desde a nossa primeira demo tape.
Vamos trabalhando a estrutura da música até que ela fique com o feeling certo e
que nos agrade. No “Esquadrão de Tortura” não foi diferente da nossa tradição.
O
Torture Squad sempre mesclou Thrash e Death Metal, porém no novo trabalho os
elementos Death Metal se fazem menos presentes. Vocês concordam?
André:
Discordo. Acredito que o meu vocal acrescentou ao som da banda um pouco da aura
daquele Thrash tradicional oitentista, porém, músicas como Never Surrender e In the
Slaughterhouse tem todos os elementos Death Metal característicos de toda a
carreira do TS.
Castor:
Em minha opinião a base musical continua a mesma! A voz do André deixou mais
forte a parte Thrash Metal, e daí então comecei a desenvolver meu vocal gutural
que mantém o lado Death Metal da banda.
Mesmo
assim a banda não perde suas características. Acredito que os vocais de André
Evaristo colaboram muito com esta ênfase maior no Thrash Metal. Vocês
concordam?
André:
Aparentemente, sim.
Castor:
Sim, essa é a característica da voz dele que faz parte do estilo da banda
também.
“Esquadrão
de Tortura” também se mostra um dos trabalhos mais variados do Torture Squad.
Esse foi mais um ponto que tentaram atingir?
André:
Acredito que isso vem acontecendo mais nitidamente desde o álbum “Hellbound”
(2008), e que isso faz parte de um processo natural de amadurecimento de
qualquer músico ou banda. No álbum “Æquilibrium” (2010) já há muitos elementos
interessantes acrescidos ao som tradicional da banda.
Castor:
Apenas
seguimos o nosso feeling musical desde o começo da banda na verdade.
O
álbum conta com diversas participações especiais, dentre elaz João Gordo (RDP)
e Fernanda Lira (Nervosa). Como foi trabalhar com esse pessoal?
Castor:
Foi muito bom! Falamos com o João Gordo e ele topou fazer a participação em Pátria Livre e ele captou exatamente a ‘vibe’
que gravou no primeiro ‘take’! A parte que ele canta na música é em um trecho
que desde que compomos a gente via uma ‘vibe’ RDP nela e foi um dos motivos o
qual convidamos, que foi uma imensa honra pra todos nós que crescemos ouvindo
RDP! A Fernanda Lira do Nervosa fez a
narrativa em inglês na For the Countless
Dead e mais uma surpresa que logo mais pode pintar por aí em algum
lançamento nosso (risos).
Há
também a participação da Sphaera Rock Orchestra. Como surgiu a ideia de
trabalhar com uma orquestra e como foi?
Castor:
Surgiu com o Amilcar a ideia de ter um arranjo de cordas no meio da Conspiracy of Silence no trecho que tem
uma levada ‘blast beat’. E em For the
Countless Dead foi arranjada pelo próprio maestro do quarteto, o Alexey
quem tínhamos contato anteriormente com seus
ótimos trabalhos mesclando arranjos eruditos com Metal!.
A
produção ficou a cargo de Brendan Duffey, que se notabilizou por trabalhar com
bandas mais modernas dentro do Metal. Por que decidiram trabalhar com Brendan e
como foi esta parceria?
André:
O Brendan e o Adriano Daga produziram o “Æquilibrium”, e tanto por parte deles
como da banda havia o desejo de continuar essa parceria. Ainda bem que as
coisas se encaminharam naturalmente a fim de possibilitar a realização desse
trabalho dessa forma, pois estamos muito satisfeitos.
Castor:
Trabalhar com o Brendan e Adriano novamente foi o tiro certeiro pro “Esquadrão
de Tortura”! Eles entraram de corpo e alma junto com a banda nas gravações!
Ficamos extremamente satisfeitos com o resultado do álbum!
No Escape From Hell foi a faixa escolhida para o
videoclipe. Qual foi o critério por escolhê-la e como foi a produção do vídeo?
André:
Sua letra fala do golpe de 64, que marca o início da ditadura e, a nosso ver, é
uma música muito forte, tanto que abre o disco e nossos shows. Foi todo filmado
nos estúdios da Caixola Brasil e produzido e editado por Fabrício Mafezoli. Na
verdade, existe o plano de fazermos mais cinco videoclipes e esse foi o
primeiro.
Como
tem sido a repercussão do álbum? Alguém relacionado à época da ditadura militar
(seja de ambos os lados) chegou a conhecer o trabalho?
André:
Tem sido muito positiva, tanto na crítica especializada quanto pelo público.
Muitas pessoas que viveram na época da ditadura têm nos parabenizado pelo
trabalho de pesquisa e pela relevância das informações que constam do disco.
Ficamos muito satisfeitos por ver as pessoas comentando sobre política a partir
das letras do álbum. Trazer esse assunto pra discussão é nossa principal
intenção, depois da música, é claro.
Castor:
O trabalho está sendo bem aceito e com certeza o “Esquadrão de Tortura” está
sendo mais um divisor de águas na nossa carreira!
Muito
obrigado pela entrevista. Podem deixar uma mensagem para os fãs.
André:
Nunca deixem de lutar pelo que acreditam! Nos vemos na turnê Tortura Na Estrada
2014!
Castor:
Obrigado a vocês que consideramos nossos amigos além de fãs, que nos apoiam e
nos dão força e energia pra continuar na batalha sempre! Somos eternamente
gratos a vocês!
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